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CARNAVAL

ROTA DA COLONIZAÇÃO: O TAPETE BRANCO

 

Por Djalma Andrade

 

Sabe, o carnaval de Salvador é um grande livro que se divide em duas partes: a primeira é composta de páginas em branco, onde o folião é responsável, a partir de sua criatividade e imaginação, pela escrita e produção de qualquer conteúdo, aí todo mundo vira escritor da animação. Na segunda parte, não temos páginas em branco, e o escritor do primeiro momento se torna leitor do que a História pôde e pode escrever. O trágico do carnaval é que, pelo nosso péssimo hábito de leitura, não conseguimos passar das primeiras páginas, ainda em branco.

Ao ver o desfile do bloco afro, afoxé filhos de Gandhi, veio-me, de imediato, em minha imaginação, uma música do Olodum: “o pelourinho não é mais aquele, olha a cara dele”. De certo, essa música me veio à lembrança porque a imagem que se imprimia diante de meus olhos me fazia cantar: “os filhos de Gandhi não são mais aqueles, olha as caras deles”.

O que, em outrora, era coisa de pobre e negro, e que tinha como marca a disseminação da paz, vem sendo colonizado por “filhos de papai”. Descobriram a rota da sedução, e se tornaram os verdadeiros pavões da avenida; uma extirpação desrespeitosa de símbolos e valores culturais de um bloco afro. No bojo dessa colonização, a cultura da paz fora substituída pela cultura da academia, onde, na avenida, peitorais definidos se tornam varais de belos colares. Quem foi que disse que a sedução não é uma espécie de violência?

A segunda parte do livro nos diz que toda e qualquer imposição é violenta. Diz também que a História não muda sua escrita porque as leituras permanecem as mesmas de lá, do Brasil colônia. O tapete branco que ficou branco simboliza uma perda imensurável à manifestação da cultura afro no carnaval de Salvador. Em suma, a rota da colonização é uma realidade que está aí, mas esquecemos de que todo bom “escritor” é sempre dependente de uma boa leitura.

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