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RELAÇÃO PESSOAL

A FILOSOFIA DO INDIVÍDUO X PESSOA

Por Djalma Andrade

 

 

Na fase da alteridade, isto é, do amor, o ser humano deixa de ser indivíduo e passa a ser pessoa, eis a diferença:

 


 

 

Indivíduo X Pessoa

Aglomerado X Comunidade

Massa X Povo

 

 

O indivíduo, como o próprio nome já o define – individualismo, é caracterizado pelo egoísmo, que por sua vez não vive em comunidade, e sim em aglomeração, onde é constituída a grande massa; no meio da massa ninguém “pensa”, eis a questão pela qual a sociedade é facilmente manipulada. Aqui, o indivíduo é caracterizado pelo amor porneia, isto é, pelo egoísmo.

Ao contrário do indivíduo, a pessoa vive em comunidade, isto é, em comunhão com seu semelhante, e forma um povo. Cinco são as características da pessoa:

 

 

 

· Vida interior

 

· Comunicação

 

· Engajamento

 

· Afrontamento

 

· Liberdade

 


 

 

Vida Interior

 


 

 

Os gregos para falar de vida usam três termos: βιος – bios, para se referir à vida no sentido físico (biológico); psychein – psique, para designar vida no âmbito da autorrealização (psicológico); e Ζωή – zoé, vida que vai além do aspecto biológico e psicológico, transpassa os aspectos físicos do tempo e espaço; tem início, mas tem o poder e privilégios da eternidade (espiritual).

 


 

 

Vida interior corresponde à vida espiritual (zoé). É a força do mistério que habita cada ser. A principal característica de quem entra em contato com tal força é a serenidade, acompanhada de firmeza naquilo que faz. Fator indispensável na pessoa de um bom líder. Eis a questão pela qual Jesus e Sidarta Gautama (Buda) se tornaram os maiores líderes que já existira. O que ambos tinham em comum era a serenidade, seguida pela firmeza no que dizia e fazia. A mensagem dos dois consistia em convidar à vida interior, isto é, espiritual. Na China, em um dos templos budistas existe uma imagem do Buda com uma espada sobre a cabeça; Jesus, da mesma forma, faz alusão à espada (Lc 12, 51). Para tanto, na teologia espada é uma simbologia que significa separar. Portanto, Buda e Jesus pretendiam simplesmente chamar a atenção para a necessidade de separar a vida material da espiritual (o empírico do metafísico). Esta última, acreditavam eles, é a base para que se possa desenvolver e viver bem a primeira.


 


É como o bambu chinês que atinge a altura surpreendente de 25 metros. Porém, antes disso, ele precisa passar pelo seguinte processo: depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada por aproximadamente 5 anos, senão um lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo. Durante 5 anos, todo crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu. O que ninguém vê é que uma maciça e fibrosa estrutura de raiz, que se estende vertical e horizontalmente pela terra, está sendo cuidadosamente construída. Então, lá pelo final do quinto ano, o bambu chinês cresce até atingir a altura surpreendente de 25 metros. E vento nenhum será capaz de arrancá-lo, pois a sua base interna é o suficiente para mantê-lo de pé, independentemente de forças externas.

Por fim, eis o que dissera o psicanalista suíço C. G. Jung sobre a vida interior: “Quem olha para fora sonha. Quem olha para dentro está acordado”.

“C. G. Jung desenvolveu uma concepção própria do despertar. Quem olha para fora vive, em última análise, num mundo de sonhos. Ele imagina alguma coisa. Não vê a realidade. Acordar significa olhar para dentro, para a alma”.[1]

Comunicação

A origem da palavra comunicação deriva do latim “communicatio”. E passa a ideia de uma “atividade realizada conjuntamente”. Comunicação – comum + ação pode ser definida por “ação em comum”. Há também o fato de comunicar, de constituir uma relação com alguém, uma transferência de informação para outrem. Dado isso, pode-se afirmar que a pessoa é apta a realizar atividade em grupos, onde se dispõe a receber e passar informação, visando resultados profícuos no trabalho realizado.

Engajamento

Vem do verbo engajar, que por sua vez tem origem na palavra francesa engager, que significa colocar-se a serviço de uma ideia, de uma causa, empenhar-se em uma determinada atividade ou empreendimento. No engajamento, a pessoa assume um caráter, o qual passa pelo crivo da inovação no que diz respeito às ideias, as quais são transformadas em atividades em vista do empreendedorismo.

Afrontamento

Aqui a pessoa é caracterizada pela sua habilidade em lidar com ideias, as quais são confrontadas em vista de se obter a melhor para aplicar em uma determinada situação, ou seja, a pessoa as compara e opta pela mais coerente. A isso se dá o nome de responsabilidade, pois é um indicativo de que a preocupação não consiste unicamente no fazer, mas principalmente nas consequências do que será feito. Fazer algo por fazer, qualquer ideia vale, mas quando se visa a excelência de uma obra, há de selecionar o que se pensa.

Liberdade

A pessoa é livre. Livre para pensar, opinar e agir. Na auto-liderança, ela constrói seu próprio caminho, e nele se mantém. Para tanto, cabe o poema de Eliette Ferreira:

Não me apontes o caminho,


 

O rumo certo pra chegar ao cimo.


 

Deixa-me encontrá-lo para que sejameu...


 

Não me reveles a mais brilhante estrela,


 

Aquela que te guia.


 

Eu buscarei a minha...

Não me estendas a mão quando eu cair.


 

Em tempo certo, em hora exata,


 

Eu ficarei de pé...


 

Não te apiedes de mim.


 

É minha estrada, é minha estrela,


 

É meu destino.


 

Deixa apenas que eu seja.


 

Sem ti...

Em suma, dentre os animais, o ser humano é o único que possui caráter de ser autônomo, e isso é o bastante para que se possa entender que ninguém deve deixar se dominar por outrem. Quando dominado por alguém, o indivíduo não só perde o direito de construir o seu próprio caminho, mas também perde o direito de ser ele mesmo.



[1] Grun. 2004, p. 38

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