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PSICOLOGIA E COMPORTAMENTO

O MASCULINO E O FEMININO

                                                                                    Por Djalma Andrade


 

 



RESUMO

O presente estudo tem por objetivo apresentar a teoria que envolve o lado feminino (anima) presente no homem e o lado masculino (animus) presente na mulher, ambos abordados dentro da perspectiva Jungiana. Para o atendimento do objetivo proposto, este estudo se inclina à questão que envolve a importância data a tal dualidade antes mesmo de Jung. Além disso, é de nosso interesse trazer, a partir da psicologia analítica, uma definição tanto da anima quanto do animus: o que são, o que representam, como se manifestam, suas conseqüências na vida do indivíduo.


Palavras – chave: anima, animus, arquétipos, psicologia analítica, feminino, masculino


 

 

INTRODUÇÃO


Falar do lado feminino no homem e do masculino na mulher implica trilhar caminhos complexos. Complexidade esta advinda do olhar mitológico que há muito norteia o tema dado. Para tanto, não foge de nosso saber que este, em tempo remoto, já ocupara seu lugar quer na vida do sujeito, quer na cultura de um povo. Da mesma forma que somos sabedores disso, assim também deveremos nos comportar frente à Psicologia Analítica, em outras palavras, não nos cabe aqui uma desatenção ao interesse de Jung pelo assunto. Ao retomá-lo, ele desenvolve estudos que não somente lhe ajudaram a melhor entender ao comportamento humano, mas como também a transitar com certa facilidade em questões outras, bem como a natureza dos complexos. Com Jung, o assunto é tratado a partir de um novo prisma, que o tira da dimensão puramente mitológica e ganha, se assim posso dizer, caráter científico; onde se confunde com as manifestações psicológicas do indivíduo. Há muito, o psicanalista Carl Gustav Jung afirmou haver uma força invisível dentro do ser humano, sendo esta por ele denominada de anima e animus. Segundo Jung, a anima corresponde ao lado fiminino presente no homem. Opostamente à anima, o animus representa o lado masculino, presente na mulher. Na elaboração de tal teoria, o psicanalista vai além e sustenta haver uma relação estreita da mesma com o nosso cotidiano: as nossas realizações, bem como profissional... humana em geral, passam pelo crivo de nossa relação com ambas as forças (anima e animus). Em outras palavras, Jung busca dizer que ruína e salvação caminham de mãos dadas, e que a nossa inclinação tanto para uma quanto para outra, depende do grau de integração existente entre indivíduo/anima/animus. Isso porque ele parte do seguinte pressuposto: a força que mata é a mesma que cura.


Dentre as muitas maneiras pelas quais podemos iniciar este trabalho, nada nos é mais pertinente do que pegarmos como ponto de partida asseverações da seguinte natureza: dentro de todo homem existem o reflexo de uma mulher, da mesma sorte, porém em sentido oposto, há dentro de cada mulher o reflexo de um homem.


Aos desavisados, cabe dizer que tal afirmação não possui caráter intuitivo, nem tampouco se corrobora unicamente em tempo recente. De fato, nos mais primórdios dos tempos, encontramos questões de tal natureza. A respeito disso, nos é cara a consideração de Sanford:

"A mitologia e as tradições antigas, que freqüentemente expressam verdades psicológicas que de outro modo escapariam à nossa atenção, muitas vezes atestam esta crença na dualidade sexual da natureza humana. No livro do Gênesis, por exemplo, lemos que Deus era um ser andrógino e que os primeiros seres humanos, criado à imagem dele, eram, por isso, masculinos e femininos... Essa idéia de que o ser humano original era macho e fêmea é encontrada em numerosas tradições. Por exemplo, tanto as mitologias persas quanto as talmúdicas falam de que modo Deus criou primeiro um ser bissexuado – um macho e uma fêmea unidos num só ser – e, depois, dividiu esse ser em dois".

Nesse ponto, nada é mais válido do que o mito de Adão para melhor clarear o nosso entendimento. Adão era macho e fêmea. Deus quis fazer a mulher e, então, levou Adão a um sono profundo, tirando, depois disso, a mulher (Eva) de sua costela. Ainda, a respeito dessa dualidade que compõe o caráter humano,

"O personagem de Platão, Aristófanes, repete um antigo mito grego sobre os seres humanos originais, que eram perfeitamente redondos, tinham quatro braços e quatro pernas e uma cabeça com duas faces, parecendo opostas entre si. Essas esferas humanas possuíam qualidades tão maravilhosas e tão grande inteligência que rivalizavam com os deuses que, pondo em ação sua inveja e terror, cortaram as esferas em dois, a fim de reduzir o seu poder. Os seres esféricos originais ficaram separados em duais metade, uma feminina e outra masculina".

É claro que o assunto em pauta não se esgota nas citações acima descritas, é amplo e se corrobora não somente na cultura religiosa ou filosófica, mas também passa pelo crivo da inspiração poética, que se ocupa com questões desse gênero. “Em nosso século, C.G. Jung é o primeiro cientista a observar esse fato psicológico da natureza humana e a tomá-lo em consideração ao descrever o ser humano em seu todo”. Jung chamou o lado feminino presente no homem de animas, e o lado masculino presente na mulher de animus. “Ele tirou tais palavras do termo latino animare, que quer dizer animar, avivar, porque sentiu que a anima e o animus se assemelhavam a almas ou espíritos animadores, vivificadores, para homens e mulheres”. Além disso, Jung também os chamou de arquétipos, “porque a anima e o animus são blocos essenciais de construção na estrutura psíquica de todo homem e de toda mulher. Se algo é arquétipo, é típico. Os arquétipos formam a base dos padrões de comportamento instintivos e não aprendidos, que são comuns a toda espécie humana e que se apresentam à consciência humana de certas maneiras típicas”.

 


Nessa temática que envolve o masculino e feminino, é louvável o caminho que toma Sanford para explicar a diferença entre ambos os termos:

"Para estabelecer a diferença entre o que é masculino e o que é feminino, talvez seja melhor falar em termos de imagens do que em termos de funcionamento psicológico. Falar do macho e da fêmea é uma maneira de dizer que a energia psíquica, como todas as formas de energia, corre entre dois pólos. Assim como a eletricidade flui de um pólo positivo para um negativo, também a energia psíquica flui entre dois pólos que foram chamados de masculino e feminino".

Depois dessa breve volta ao mais primórdio dos tempos, em busca de alguma informação sobre o tema dado, tomemos um rumo mais específico, onde as considerações sobre a anima e o animus incidam da Psicologia Analítica, proposta por Jung.


ANIMA
Para um melhor fluir das ideias, e até mesmo visando à confiabilidade das mesmas, é louvável que iniciemos esse tópico atentando aos estágios da anima, propostos por Jung:

 


O de Eva, o de Helena de Tróia, o da Virgem Maria e o de Sofia. A primeira, Eva, é a anima no nível biológico, o mais baixo, como fonte de instinto e como instigadora da sexualidade. Como Helena de Tróia, a anima personifica a beleza e a alma, e já não é completamente equacionada com a instintualidade. Como a Virgem Maria, ela personifica a possibilidade de relacionamento com Deus, e como Sofia encarna o princípio do relacionamento com a sabedoria mais elevada.

Se assim procede, somos sabedores de que no corpo de cada homem existe uma porção feminina que foi sobreposta pela porção masculina, à feminilidade inconsciente no homem é denominada por Jung de anima. Esta, segundo o mesmo autor, “é, presumivelmente, a representação psíquica da maioria de gens femininos presentes no corpo do homem”. Essa feminilidade inferior e indiferente aparece cotidianamente através de manifestações de capricho e mudanças de humor. Na observação de Sanford, isso se justifica no fato de a anima fazer parte do plano dos arquétipos, e estes, segundo ele, “são muito numinosos. Isso significa que eles se acham cheios de energia psíquica, tendendo, por isso, a atingir-nos emocionalmente.” Para Jung, a anima “intensifica, exagera, falsifica e mitologiza todos os relacionamentos emocionais”.

A anima também é composta de experiências fundamentais que o masculino teve com o modelo feminino primordial desde os primórdios. É resultado de um aglomerado hereditário e inconsciente de todas as experiências de uma linha ancestral em relação ao ser feminino deixado no individuo masculino pelas impressões retidas do ser feminino, assim, a anima é o arquétipo do feminino presente no ser masculino.

O primeiro componente ou contribuinte para ela é o arquétipo materno que parece ter algo de mágico, de divino e supremo. Depois a anima será transferida para a professora, a artista, a amiga e posteriormente para a mulher com quem esse homem se relacionará e com quem enredará complicados laços devido à imagem real da mulher não corresponder em sua maioria ao registro de sua anima. Essa transferência nem sempre se processa de forma satisfatória, pois a primeira retirada dessa anima de seu lugar, ou seja, a saída da mãe para a ocupação de outras mulheres constitui uma etapa muito importante na evolução psíquica do homem. Se essa transferência se processa de forma desequilibrada, posteriormente essa anima é transposta sob a imagem da mãe na esposa ou namorada.


O homem nesse caso espera que a mulher ou esposa assuma o papel ou lugar de mãe, de proteção, cuidadora e principalmente de intocável no sentido físico, o que origina comportamentos respeitosos digam, os assim e que prejudicarão a relação homem e mulher.

 

No que concerne à manifestação da anima, esta primeiramente se manifesta ou se projeta de preferência no exterior, sobre seres reais, sempre presente nas problemáticas das relações amorosas, suas ilusões e desilusões. Mas, posteriormente, ela passa a ser projetada como a mulher dentro do homem durante muito tempo reprimida, pois não é permitido, culturalmente, o homem ser dominado pela emoção e sim pela razão. O homem sempre forte, agora se mostrará frequentemente aborrecido: aparecerão mudanças de humor bruscas e, por conseguinte, estará suscetível às explosões emocionais.

É de nosso interesse saber que a anima aparece personificada nos sonhos, nos contos de fada, no folclore, nos mitos e nas representações artísticas. São exemplos, a sereia, a fada, deusa, entre outras.

O princípio feminino pode passar por estágios evolutivos. Um estágio é o da etapa em que fortes componentes sexuais acham-se mesclados a elementos românticos e estéticos; o outro é quando a anima assume um papel evolutivo superior como uma misteriosa encarnação de espiritualidade.

Se o princípio feminino do homem for tomado em consideração e confrontado pelo ego, os fenômenos decorrentes de seus movimentos autônomos dissolvem-se, suas personificações desfazem-se, tornando, assim, a anima uma função psicológica da mais alta importância: função intermediária entre o consciente e o inconsciente (relacionamento com o mundo interior) e função de sentimento conscientemente aceito (relação com o mundo exterior).

ANIMUS

Da mesma forma que no homem existe uma porção feminina, na mulher também existe uma porção masculina que recebe o nome de animus. Jung denomina animus á masculinidade existente no psiquismo da mulher. Essa masculinidade é inconsciente e se manifesta na forma de comportamentos objetivos e práticos, como intelectualidade mal diferenciada e simplista.

Frequentemente vemos essa manifestação quando uma mulher tenta sustentar opiniões e afirmações, que não resistem a um exame lógico, e que são teimosamente defendidas com argumentos acirrados. O animus se opõe a essência feminina, que busca antes de tudo o relacionamento afetivo. Sua hipertrofia dará origem a um comportamento de humor sempre queixoso e em quebra de laços de amor.

O animus condensa todas as experiências que a mulher vivenciou com a figura masculina desde os primórdios, e que foram incorporadas ao inconsciente coletivo. É a partir desse imenso material inconsciente que é modelada a imagem do homem, a qual a mulher procura. O primeiro modelo é o pai como protetor, heróico, forte e racional. Posteriormente esse modelo será transferido para o professor, o amigo, o irmão, o artista, o esportista, o político e finalmente o parceiro. Projetado sobre o homem real, ou o homem amado, faz dele uma imagem ideal, impossível de resistir à convivência cotidiana, vindo dessa forma às decepções amorosas inevitáveis.

A personificação que o animus assume nos sonhos, contos de fada, folclore, mitos e outras produções do inconsciente, variam em grande escala; aparece em formas de animais, de selvagens, príncipes, heróis, feiticeiros, artistas, entre outros. Do mesmo modo que a anima, o animus é suscetível de evoluir e transformar-se. Vários contos de fada nos falam de príncipes transformados em animais que seriam redimidos de seu castigo pela intervenção da mulher ideal, a princesa, o que significa evolução e integração do principio masculino na consciência da mulher.

O animus nos seus aspectos positivos tem funções importantes a realizar. É o mediador entre o inconsciente e consciente, papel desempenhado pela anima no homem. Se cuidado e integrado pelo consciente, traz à mulher capacidade de reflexão, de autocontrole, autoconhecimento e gosto pelas coisas do espírito.

ANIMA X ANIMUS

As relações entre homens e mulheres ocorrem dentro do emaranhado produzido pela anima e pelo animus, suas funções positivamente desenvolvidas ou negativamente, originando o pano de fundo para a apresentação do enredo amoroso. Tanto homem quanto a mulher apresentam a composição do outro em pequena escala que se relacionará também com a porção do outro, ou seja, o animus da mulher está em constante e estreita relação com a anima do homem, dependendo dessa afinidade para construir uma relação maior de sucesso ou não. O homem e a mulher sempre apresentam a sensação de incompletude quando sozinhos, visto buscarem sempre a união de sua anima ao animus do outro, pois a natureza do homem pressupõe a mulher e a mulher a do homem.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, a mulher raciocina e percebe-se simplesmente como mulher. O homem, da mesma sorte, pensa, age e julga-se apenas como homem; todavia, as manifestações psíquicas mostram que todo ser humano é andrógino. Na sociedade, o papel desempenhado pela mulher é de caráter feminino. Igualmente, as atividades desenvolvidas pelo homem são de caráter masculino; porém é possível afirmar que, salvo as características biológicas, tudo mais passa pelo crivo da cultura de cada um. Nessa esfera, onde a influência cultural não poupa ninguém, dar-se conta da realidade da anima e do animus requer um considerável esforço consciente, e isso induz o próprio Jung a referir-se ao encontro com o animus ou com a anima como sendo indispensável ao processo de individuação. Tal processo é caracterizado por uma anima que passa a funcionar em seu lugar correto; desse modo, ela ajuda a ampliar a consciência do indivíduo, e a enriquecer a sua personalidade, infundindo nele, por meio de sonhos, ideias e fantasias inspiradas, a percepção de um mundo interior de imagens psíquicas e, por conseguinte, de emoções vitalizantes. Enfim, deve fazer parte de nosso saber que, no que se refere a anima e animus, ambos não são bons nem tampouco ruins; eles simplesmente são… desejam vida, assim, parecem querer tanto o mal quanto o bem, pois não nutrem interesses por essas categorias morais.



 


REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS

___SILVEIRA , Nise. Jung: Vida e obra. Ed. Paz terra, 2006, São Paulo.
___SANFORD, John A. Os parceiros invisíveis: o masculino e o feminino dentro de cada um de nós. Ed. Paulus, 2006, São Paulo.

 

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