top of page

ESCOLA

PSICOLOGIA ESCOLAR

Por Djalma Andrade
Resumo

 

Com a intenção de contribuir para a fundamentação do trabalho docente, o presente estudo tem por escopo fazer uma abordagem sobre a atuação do psicólogo no âmbito escolar. Atuação da qual nascem novas práticas em prol de uma formação humano-afetiva, que visa o desenvolvimento da autonomia do aluno quer seja para melhor lidar com suas escolhas, quer seja para conviver com os novos desafios que se impõem à sociedade atual. Mais que isto, o papel do psicólogo é salutar na corrida pela construção de uma escola “sadia”, principalmente no que concerne às relações entre docente e discente.

Introdução

 

 
Em torno dos muitos fenômenos de transformação pelos quais a sociedade vem passando nos últimos anos, é impensável uma imagem estagnada do ser humano. Frente a isto, o grande desafio é pensar maneiras para não somente dar respostas inteligentes a fenômenos tais como a diferença de gênero, desigualdade social, violência, sexualidade, globalização, meio ambiente, diferença de raça dentre outros, mas fazer parte desse cenário sem deixar se “contaminar” por teorias preconceituosas, quando não, políticas, sem bases teóricas.

 

 

Essa gama de fatores sugere, e não poderia ser diferente, cada vez mais uma formação multidisciplinar, onde se possa pintar uma nova imagem do indivíduo, que não se resuma simplesmente em um “depósito” de informações, mas que perpasse as barreiras da mecanização e realce seu sentido mais veemente: ser e sentir no mundo.

 

 

Não fica às margens de nosso entendimento que a instituição Escola ocupa um espaço significante dentro desse processo. Dela se espera posturas responsáveis e inteligentes, que se traduzem em olhares desprovidos de preconceitos, de qualquer ordem de enquadramento e negligência frente à humanidade de cada ser.

 

 

No bojo de todo esse campo minado, onde o cuidado se configura como elemento indispensável ao processo de formação, os desafios ainda se constituem como peça principal do quebra-cabeça. De todo modo, eles sinalizam a urgência que há em se pensar novas maneiras para conduzir a Educação. É aqui que a psicologia começa encontrar terreno fértil na esfera escolar. E isso nos levará a uma pergunta chave: qual é o papel do psicólogo dentro da escola? Tendo em vista tal questão, buscaremos urdir o corpo desse texto a parir de fontes seguras e eficazes.

 

 

 

O papel do psicólogo escolar

 


 

 

A priori, é pertinente salientar que não devemos conceber um sistema educativo que passe pelo crivo da estagnação e sem dinâmica, indiferente à necessidade de um processo que se atualiza conforme as mudanças no mundo. O sistema educacional no qual buscaremos discutir o papel do psicólogo se caracteriza pela sua habilidade em acompanhar as evoluções ocorridas nos últimos anos, inclinando-se, assim, às novas realidades sociais, políticas e econômicas.

 

 

Pensar na atuação do psicólogo escolar é, antes de tudo, lançar olhos aos novos desafios que se impõem à Instituição Escola. Nesse emaranhado oceano, aprender a ler e escrever é quase insignificante frente às novas exigências sociais. No bojo de toda essa realidade, sinalizada pela transformação, surgem novos temas transdisciplinares, sendo estes marcados pela urgência de serem relacionados com a análise de problemas atuais. Na perspectiva do psicólogo Renato Carvalho, “a multiculturalidade da sociedade, os padrões de desenvolvimento ambiental sustentável, a igualdade de gênero, a cidadania europeia, a educação sexual, o desenvolvimento vocacional, são elementos que caracterizam o mundo actual e colocam novos desafios aos sistemas educativos”. E não para por aí, à luz da leitura de Patto, podemos concluir que a desigualdade social constitui desafio maior:

 

 

A crença na incompetência das pessoas pobres é generalizada em nossa sociedade. Às vezes, nem mesmo os pesquisadores munidos de um material teórico-crítico estão livres dela. Como veremos, mesmo quando voltamos os olhos para a escola e ensino numa sociedade de classes e neles identificam inúmeras condições que podem por si só explicar as altas taxas de reprovação e evasão, continuam a defender as teses da teoria da carência cultural. O resultado é um discurso incoerente que, em última instância, acaba reafirmando as deficiências da clientela como a principal causa do fracasso escolar. (Patto. 2009, p. 76).

 

 
Tal colocação denota a carência de olhares desprovidos de preconceitos e nos dá, a pesar de toda a evolução, uma Escola ainda contaminada, em sua base, por certas ideologias. Sobre esse ponto, a contribuição da Chauí é louvável:

 

 

A ideologia nasce para fazer com que os homens creiam que as suas vidas são o que são em decorrência de certas entidades (a Natureza, os deuses ou Deus, a Razão ou a Ciência, a Sociedade, o Estado), que existem em si e por si e às quais é legítimo e legal que se submetam. Ora, como a experiência vivida imediata e a alienação confirmam tais idéias, a ideologia simplesmente cristaliza em “verdade” a visão invertida do real (2001, p. 80).

 

 

É no arcabouço dessa “verdade”, onde se inverte toda e qualquer realidade, que a atuação do psicólogo escolar passa a ter, em sua singularidade, seu primeiro sentido. Estamos falando de uma formação que se atém a particularidade do indivíduo, que enxerga na gênese de cada história de vida a possibilidade para promover o desenvolvimento humano em sua completude mais acentuada.
 

 

Nessa perspectiva, a importância do papel do psicólogo não diz respeito simplesmente à problemática relacionada com os alunos, vai além, passando pelo crivo da preparação do jovem para o seu futuro. Além disso, não foge ao nosso saber que o acompanhamento do fenômeno educativo e da participação em processos de decisão, corroboram a prática desse profissional. “Na realidade, podem ser identificados diversos domínios de intervenção, sendo importante destacar a importância que, por exemplo, a promoção de competências de desenvolvimento e maturidade vocacional, numa lógica de perspectiva temporal de futuro, têm no contexto de da sociedade actual”, assegura o psicólogo Renato Carvalho. E continua:
 

 

No contexto de aprendizagem ao longo da vida, a orientação inclui um conjunto de actividades que permitem aos cidadãos de todas as idades e em qualquer momento da vida identificar as suas capacidades, competências e interesses, tomar decisões em matéria de educação, formação e ocupação, e gerir o seu percurso individual no ensino, trabalho e outras situações em que estas capacidades e competências são adquiridas e/ou utilizadas... A orientação eficaz tem um papel fundamental a desempenhar na promoção da inclusão social, da equidade social, da igualdade entre os sexos e da cidadania activa, através do incentivo e do apoio aos indivíduos para que participem na educação e na formação e façam as suas opções no sentido de uma carreira realista e em que se realizem.
 

 

De fato, uma formação atenta a tal questão é indispensável, pois na falta de uma orientação profissional adequada, o jovem está sujeito a seguir profissões baseado no “modismo”, isto é, a carreira do momento, a que proporciona maior status e, por conseguinte, maior retorno financeiro. Isso denota uma maturidade pouco desenvolvida, que se traduz na incapacidade de fazer uma auto-reflexão a respeito de seus próprios sentimentos, bem como, o que gosto de fazer? O que me realiza? O que faço bem? A psicóloga Mariene Campos, supervisora do Serviço de Orientação Vocacional do Serviço de Psicologia Aplicada do Instituto de Psicologia da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), afirma que “temos que ver toda forma de orientação como promoção de saúde, pois uma decisão errada nesse momento irá gerar insatisfações, o que pode se refletir na autoestima do jovem, no desempenho profissional, na relação familiar e até trazer problemas de saúde mais sérios como diabetes, estresse, depressão”.

 

 

Além do discutido, as psicólogas Fernanda Drummond e Thaís Almeida vêem na prática do psicólogo escolar elementos indispensáveis a um profícuo desenvolvimento no que diz respeito à atuação do professor na Escola.

 

 

Torna-se relevante o auxílio na capacitação do professor para que possa vir a desenvolver habilidades ao se confrontar com explosões emocionais por parte de um único aluno, de um grupo ou de familiares. O psicólogo escolar, principal responsável pelo referido auxílio, trabalha com o professor para que este não fique vulnerável à situação de contágio emocional, impossibilitado, assim, de enxergar as nuances que circundam a situação, o que faz perder o controle das possibilidades de ação que atenuariam tal circunstância.

 

 

A pesar de tudo, estamos certo de que não podemos dar a questão por concluída. Na maioria das vezes, a presença da Psicologia na Escola ainda é de caráter tímido, insuficiente para, pelo menos, amenizar o discurso da Escola para com os alunos que trazem as suas dificuldades, a exemplo de tal discurso, podemos citar a fala de um professor que trazemos para o nosso relatório de observação, na Escola Evaristo da Veiga: “que nada, eles são assim mesmo, não têm jeito não; você sabe de onde eles vêm”? É claro que estamos diante de uma fala carregada de preconceitos, que denota certa deficiência na formação desse profissional. Por isso,

 

 
É cada vez mais notória a necessidade da Psicologia Escolar repensar formas de atuação junto com os outros profissionais pertencentes ao universo da escola, incluindo docentes e pedagogos, com o intuito de ampliar as possibilidades curriculares, estratégias de ensino-aprendizagem, dentre outras formas que potencializem características multifatoriais desses sujeitos em processo de desenvolvimento. É nesse sentido que caminha a prática dos psicólogos, visando privilegiar uma atuação mais preventiva, a qual possa ser compreendida e consolidada na escola, reduzindo, assim, demandas e solicitações limitadas à dimensão do problema e da doença.
 

 

Contrapartida, gostaríamos de acreditar que uma pessoa, com um simples diploma de psicologia, seria o bastante para lidar com tais questões e alcançar êxito nas mesmas. Excelente se assim o fosse.
 

 

Não diferente dos muitos campos, nos quais a psicologia transita, o âmbito escolar, em toda a sua dinâmica, exige do psicólogo elementos que, provavelmente, não fazem parte de seu script de formação. Em carta a um jovem psicoterapeuta, Calligaris faz uma observação que, de todo modo, aplica-se a toda esfera da psicologia, principalmente à escolar: “Para se um bom psicoterapeuta, é útil que a gente possua alguns traços de caráter ou de personalidade que, dito aqui entre nós, dificilmente podem ser adquiridos no decorrer da formação: melhor mesmo que eles estejam com você desde o começo”.

 

 

Em outras palavras, Calligaris não está fazendo outra coisa senão chamando a atenção para a importância da vocação profissional. Sem rodeios, esta constitui o tripé da ação de todo e qualquer profissional. Não se trata de estampa. É a maneira pela qual o indivíduo reage aos fenômenos da vida e as suas consequências. Talvez não tenhamos elementos empíricos para dizermos quem, de verdade, tem vocação ou não para se tornar um excelente psicólogo escolar, mas se tivéssemos que investigar isso mais a fundo, certamente o fator gostar da escola não estaria em nossos primeiros planos de buscas, mas sim a maneira pela qual esse profissional reage às ideologias. Esse é o primeiro e quem sabe o único elemento a ser observado em quem busca seguir a psicologia escolar. Posiciono-me de tal maneira porque é improvável que todas as outras questões não sejam uma consequência dessa.

 

 

 

Considerações finais

 

 

Em suma, o desenvolvimento humano não é, em hipótese alguma, dicotomizado da evolução e transformação ocorrida na sociedade, no mundo. Em si, o próprio ser humano é o primeiro responsável por tal dinâmica, e ele mesmo é o primeiro a pensar meios que possam atender as novas possibilidades e desafios da modernidade. No âmago dessa problemática, repensar a escola não diz respeito tão simplesmente a uma espécie de conteúdo programático, onde aprender a ler e escrever constituía o alicerce da mais simples a mais complexa perspectiva humana.

 


 

© 2023 by WRITER'S INC. No animals were harmed in the making of this site.

  • facebook-square
  • twitter-bird2-square
bottom of page