
Comportamento
Juventude e afetividade
Por Djalma Andrade
Certo filósofo uma vez disse que temos que mudar para continuarmos sendo os mesmos. Os mesmos em nova sociedade, a qual muda quando mudamos e renovamos os desejos e forma de desejar. O cenário atual, no qual a juventude estampa suas “fotos”, convida-nos a passear no mundo das transformações quer sejam subjetivas, quer sejam concretas.
Vislumbrar o mundo das novas gerações nos deixa com uma leve sensação de que o que antes habitava o campo da subjetividade, hoje se oferece às mãos, podendo ser tocado. O sentimento quando não pode ser apalpado, torna-se coisa do passado, talvez uma coisa caduca. E isso vem refletindo significativamente nas relações, principalmente amorosas, traçadas por grande parte dos jovens dessa nova sociedade.
A psicóloga Sílvia Graubadt assinala que falar de amor e sexo no século XXI implica em refletir na sociedade do espetáculo descrita pelo polêmico pensador francês Guy Debord. O autor analisa uma forma de estar no mundo em que a vida real é, inexoravelmente, pobre e fragmentada – e as pessoas são obrigadas a assistir e consumir passivamente as imagens de tudo que lhes falta em sua existência subjetiva. Essa perspectiva me remete ao termo “ficar”- rótulo informal para os encontros efêmeros e descartáveis, nos quais ver, ser visto e aparecer reduzem os casais a machos e fêmeas no cio. Os pares são transitórios, os arranjos duram apenas algumas horas, talvez dias. Ou minutos, é o tempo do desejo saciado (Rev. Mente e Cérebro, n. 170, p. 19).
Para a psicóloga Andreia Calçada, é impossível não remeter, ao falar desse assunto, ao Hedonismo e ao Narcisismo, que minimamente a própria cultura incute e expande. A beleza cultuada ao extremo, a vaidade que em algumas pessoas precisa ser mostrada pelo carro maior e mais caro, roupas e acessórios. O termo narcisismo e o nome Narciso derivam da palavra grega narke, que significa entorpecido, de onde também vem a palavra narcótico (Rev. Psique, n. pp. 28-29).
Entorpecidas de si, as novas faces encontram nas redes sociais a possibilidade de aperfeiçoar, cada vez mais, sua imagem. Imagem que é venerada em postagens de bens, de cargos e viagens. Nas relações virtuais, não temos o olhar condenatório do outro sobre a nossa verdade, além do mais, há aí um acordo: eu acredito no que você posta, e você acredita no que eu posta, e tudo bem. Isso nos deixa à vontade para mentir sem limites, em nome da construção de uma imagem perfeita. Isso surge como um empecilho à instabilidade nas relações amorosas e afetivas, pois transformou em realidade o que antes estava no plano da utopia. Encontrar o parceiro (a) perfeito deixou de ser uma questão fantasiosa, e pode ser resolvida em apenas um clique, sem nenhum problema.
É partindo de tal realidade que o sociólogo Clairton Lopes observa que o contexto cultural que garantia a estabilidade das relações amorosas e de casamento hoje mudou drasticamente. As relações afetivas não são mais garantidas por um quadro normativo e a família não é mais o único espaço de relações de convivência entre homens e mulheres (apud, Andreia Calçada, rev. Psique, n. 170, p. 29).