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SOCIOLOGIA E COMPORTAMENTO
IDEOLOGIA
Por Djalma Andrade
“O mundo é opaco para a consciência ingênua que se detém nas primeiras camadas do real” (Ecléa Bosí).
À luz de nossas buscas pelo saber, pelo viver e ser; nasce, assim, o que chamamos “encantamento pela vida”. Isso se fez tão claro no âmbito filosófico e poético que até hoje gozamos de um cabedal de afirmações, as quais dificilmente encontrariam refutação por parte do mais intelectualizado Homem. São afirmações tais como: “o mundo é um palco, a vida é um espetáculo”. Espetáculo que, a depender da direção e intensidade de cada “olhar”, reluz ou obscurece. Dito de maneira diferente, luz e opacidade fazem parte de um mesmo cenário, e é o modo que concebemos a realidade que nos norteia que irá nos direcionar a uma ou a outra, visto não caber nessa dinâmica o meio termo.
Frente à afirmação de Bosi, torna-se quase impensável a construção e vivência de um mundo opaco sem que este não tenha nenhum tipo de ligação com uma realidade de natureza alienante, pois
A alienação é um processo ou o processo social como um todo. Não é produzida por um erro da consciência que se desvia da verdade, mas é resultado da própria ação social dos homens, da própria atividade material quando esta se separa deles, quando não a podem controlar e são ameaçados por ela. A transformação deve ser simultaneamente subjetiva e objetiva: a prática dos homens precisa ser diferente para que suas idéias sejam diferentes (Marilena Chauí. 2001, p. 74).
No bojo de cada vivência quer seja pessoal, quer seja coletiva, jaz uma certeza a qual não poderemos deixar de apontar: realidade e ideologia fazem parte de uma mesma reta, ambas caminham de mãos dadas; todavia, a grande diferença consiste em compreender quem explica quem. Eis o ponto crucial, que irá separar o “joio do trigo”, luz de opacidade.
Para tanto, se concluirmos que as ideologias explicam a realidade, nada estaremos produzindo além de um incômodo lugar no mundo das aparências; em outras palavras, construímos a realidade a partir de experiências imediatas, como algo dado, feito e acabado que apenas classificamos, ordenamos e sistematizamos. Quando Ecléa Bosi afirma que “o mundo é opaco para a consciência ingênua que se detém nas primeiras camadas do real”, certamente ele aponta para o um mundo ilusório, desprovido de indagações, o que tira do sujeito a sua autonomia, onde seus passos sempre dependerão dos sistemas que determinam onde cada pessoa, a depender de sua classe social, pode chegar ou não, pode ser ou não. Todavia, aqui, uma ressalva faz-se necessário:
Por ilusão não devemos entender “ficção”, “fantasia”, “invenção gratuita e arbitrária” “erro”, “falsidade”, pois com isso suporíamos que há ideologias falsas ou erradas e outras que seriam verdadeiras e corretas. Por ilusão devemos entender: abstração e inversão. Abstração... é o conhecimento de uma realidade tal como se oferece à nossa experiência imediata... (Marilena Chauí. 2001, p. 93).
De todo modo, a Chauí nos coloca, com isso, diante de um emaranhado oceano, onde podemos afirmar que é em tal colocação da autora que o mundo opaco de Bosi encontra terreno fértil, pois
A ideologia nasce para fazer com que os homens creiam que as suas vidas são o que são em decorrência de certas entidades (a Natureza, os deuses ou Deus, a Razão ou a Ciência, a Sociedade, o Estado), que existem em si e por si e às quais é legítimo e legal que se submetam. Ora, como a experiência vivida imediata e a alienação confirmam tais idéias, a ideologia simplesmente cristaliza em “verdade” a visão invertida do real (ibidem, p. 80).
No cerne da questão discutida, muitos são os horizontes para os quais podemos lançar o nosso miraculoso olhar. Aqui, se o que está em jogo é a verdade, não há porque abrir mão de tudo aquilo que possa lançar luz as nossas buscas. Desse modo, é-nos caro, não somente compreender, mas também trazer para a nossa discussão a contribuição do cantor e compositor Dorival Caymmi. De fato, parece um tanto evidente que Caymmi quis traduzir o mundo opaco e alienante de Bosi em música:
Quando eu vim pra esse mundo
Eu não atinava em nada
Hoje eu sou Gabriela
Gabriela he! meus camaradas
Eu nasci assim, eu cresci assim
Eu sou mesmo assim
Vou ser sempre assim
Gabriela, sempre Gabriela
Quem me batizou, quem me iluminou
Pouco me importou, e assim que eu sou
Gabriela, sempre gabriela
Eu sou sempre igual, não desejo mal
Amo o natural, etcetera e tal
Gabriela, sempre Gabriela .
É patente que o mundo opaco de Ecléa e Gabriela de Caymmi fazem parte de uma alusão ao mundo ideológico, o qual, Marilena Chaui, reportando-se a Durkheim, faz válidas considerações: “o ideológico é um resto, uma sobra de idéias antigas, pré-científica. Durkheim as considera preconceitos e pré-noções inteiramente subjetivas, individuais, “noções vulgares” ou fantamas”(Marilena Chauí. 2001, p. 32).
Compactuando com o pensamento de Karl Marx, podemos afirmar que a ideologia não explica a realidade, mas esta última que explica a primeira, ou seja, é a realidade que explica a ideologia: “teremos de examinar a história dos homens, pois quase toda ideologia se reduz ou a uma concepção distorcida dessa história, ou a uma abstração completa dela. A própria ideologia não é senão um dos aspectos dessa história” ( Marilena Chaui, 2001, p. 36).
É a partir de tal perspectiva que o indivíduo pode ultrapassar as primeiras camadas do real, do aparente, que aprisiona o sujeito dentro de um mundo ilusório e, na maioria das vezes, sem sentido; a que se referiu Ecléa Bosi ao proferir o termo opaco. Todavia, avançar além das primeiras camadas do real é um trabalho árduo, “pois o que faz da ideologia uma força quase impossível de ser destruída é o fato de que a dominação real é justamente aquilo que a ideologia tem por finalidade ocultar”. (ibidem, p. 80). Por tudo, podemos concluir dizendo que a ideologia "resulta da prática social, nasce da atividade social dos homens no momento em em que estes representam para si mesmos essa atividade... essa representação é sempre necessariamente invertida. O que ocorre, porém, é o seguinte processo: as diferentes classes sociais represetam para si mesmas o seu modo de existência tal como é vivido diretamente por elas, de sorte que as representações ou idéias (todas elas invertidas) diferem segundo as classes e experiências que cada uma delas tem de sua existência nas relações de produção. No entanto, as ideias dominantes em uma sociedade numa época determinada não são todas as iédias existentes nessa sociedade, mas serão apenas as idéias da classe dominante dessa sociedade nessa época" (Ibidem, p. 84.
Nessa relação que envolve dominante e dominado, nasce a possibilidade da alienação, onde se erguem dois mundos totalmente distintos; um deles, certamente, não deixará de ser o mundo opaco, ao qual Ecléa Bosi se refere.
É a partir de tal perspectiva que o indivíduo pode ultrapassar as primeiras camadas do real, do aparente, que aprisiona o sujeito dentro de um mundo ilusório e, na maioria das vezes, sem sentido; a que se referiu Ecléa Bosi ao proferir o termo opaco. Todavia, avançar além das primeiras camadas do real é um trabalho árduo, “pois o que faz da ideologia uma força quase impossível de ser destruída é o fato de que a dominação real é justamente aquilo que a ideologia tem por finalidade ocultar”. (ibidem, p. 80). Por tudo, podemos concluir dizendo que a ideologia "resulta da prática social, nasce da atividade social dos homens no momento em em que estes representam para si mesmos essa atividade... essa representação é sempre necessariamente invertida. O que ocorre, porém, é o seguinte processo: as diferentes classes sociais represetam para si mesmas o seu modo de existência tal como é vivido diretamente por elas, de sorte que as representações ou idéias (todas elas invertidas) diferem segundo as classes e experiências que cada uma delas tem de sua existência nas relações de produção. No entanto, as ideias dominantes em uma sociedade numa época determinada não são todas as iédias existentes nessa sociedade, mas serão apenas as idéias da classe dominante dessa sociedade nessa época" (Ibidem, p. 84.
Nessa relação que envolve dominante e dominado, nasce a possibilidade da alienação, onde se erguem dois mundos totalmente distintos; um deles, certamente, não deixará de ser o mundo opaco, ao qual Ecléa Bosi se refere.
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