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    Psicologia

    Eros e Libdo: alusão de Freud a Platão

Por Djalma Andrade

 

 

Indubitavelmente, o Eros (amor) constitui um dos pilares da filosofia platônica, e muitos outros filósofos também se debruçaram sobre tal assunto.  Para o indivíduo mortal, ele se põe como fonte de energia impulsionadora, e “seu verdadeiro objeto é conservação e a reprodução da vida” (Banquete, p. 40). À luz do olhar de Platão, transforma-se em divindade; portanto, existe fora e dentro do indivíduo, dito de maneira diferente, é autônomo em seu existir e desejar.  De fato, em sua suculência rebuscada, ele pertence à alma, e é justamente nesse ponto que encontra tal caráter de autonomia, pois Platão assevera que a “alma só se move por si” (Ibidem, p. 41). No urdir das ideias, Platão traça uma reta, onde, avidamente, debruça-se nas palavras que liberta Eros do domínio humano: “o amor é filho de Poros (o deus da abundância) e de Penia (a Pobreza). Participando destas duas naturezas, o amor não é rico nem pobre. Sua condição é sempre intermediária. Como desejo de felicidade, ele é universal e não é apanágio exclusivo do humano” (Ibidem, p. 40).

Na base da teoria de Freud sobre Eros, nos é claro que Freud passeia pelas ideias de Platão, e o faz com bom gosto e apreciável estilo. Com liberdade e elegância intelectual que lhe era peculiar, ele enlaça o objeto do Eros Platônico; dá outro nome (Libido), mas o objeto permanece o mesmo: “os instintos libidinais, sexuais ou instintos de vida, que são mais bem abrangidos pelo nome de Eros; seu intuito seria constituir a substância viva em unidades cada vez maiores, de maneira que a vida possa ser prolongada e conduzida a uma evolução mais alta” (Freud. vol. XVIII, p. 167).

Nesse emaranhado oceano de ideia freudiana em torno do Eros platônico, um preço a pagar: “por chegar a tal ponto, a psicanálise provocou algumas inquietações nas mentes desavisadas, como se fosse culpada de um ato de ultrajante inovação. Contudo, não fez nada de original em tomar o amor nesse sentido ‘mais amplo’. Em sua origem, função e relação com o amor sexual, o Eros do filósofo Platão coincide exatamente com a força amorosa, a libido da psicanálise” (Ibidem, p. 57).

No vol. VII, p. 82, Freud, em defesa à psicanálise, pontua: “e quanto à ampliação do conceito de sexualidade, que a análise das crianças e dos chamados perversos tornou necessária, todos aqueles que desde seu ponto de vista superior olham desdenhosamente para a psicanálise deveriam lembrar-se de quanto essa sexualidade ampliada da psicanálise se aproxima do Eros do divino Platão”.

A maneira pela qual Freud se relaciona com Platão é extremamente “positiva”. Dito de outra maneira, o como Freud traz Platão para seu texto passa pelo crivo da aceitação, da concordância. Platão lhe é caro. A maneira que Freud se reporta a Platão (divino Platão) é digno de nota: veneração, um quase cultuar.

De certo modo, nessa temática, é necessário que algumas questões deixem a periferia de nosso entendimento, clareando, assim, a habilidade de indagar que nos é inerente. À luz de tudo isso, é sabido que muitas podem ser as questões que nos inquietam, todavia, a priori, só uma nos basta: por que Freud recorre à filosofia Platônica para fazer ciência? Eis uma pergunta capciosa, mas que o próprio Freud responde para nós: “somos de opinião, pois, que a linguagem afetou uma unificação inteiramente justificável ao criar a palavra ‘amor’ com seus numerosos usos, e que não podemos fazer nada melhor senão tomá-la também como base de nossas discussões e exposições científicas” (Freud. vol. XVIII).

 

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